relógios quebrados
não marcam o tempo
apenas congelam a vida,
suspendem a ação e a reação
assim como um astrolábio
poeticamente regulado
nos conduz por mares
nunca dantes imaginados,
– nem por piratas
ou pescadores de sonhos
ainda mais por um alquimista
que insista em converter
seus cadinhos mágicos
em vasos com flores de abril
para que os pássaros
e as abelhas
tenham garantido o ganha-pão
e não sejam forçados a abandonar
o seu território livre
em pleno solstício de verão
enquanto o xamã solitário
observa do alto da montanha
o firmamento estrelado,
ouvindo o assobio do vento
embalando solenemente
a dança de um ciclone
e neste instante sagrado
a areia escorre precisa
por entre as paredes frágeis
da ampulheta da vida
marcando o compasso do tempo
que o relógio inválido
se nega a registrar.